sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Dramas do sucesso...



Todos os dias têm sido assim...
me levanto,pego uma xícara de café com um bocadinho de açúcar para despertar melhor e vou até a janela. Olho para um lado, vejo o mar e peço à rainha das águas que me dê garra para enfrentar mais um dia da vida que eu mesma escolhi pra mim. Não há outros culpados ou responsáveis: fui eu mesma quem lancei minha sorte!Oxalá, seja feita a vossa vontade!!!
Tomo um gole do café que a esta altura já está menos fumegante,olho o morro verde e ainda molhado de chuva que vejo em frente, por trás dos prédios altos e já desgastados da marisia e do tempo que não deixa de passar para nada nem ninguém, penso um pouco. Às vezes até deixo cair algumas lágrimas, ou quando elas não vêm apenas penso que seria bom poder chorar um pouco, ainda que satisfeita e feliz com o destino. Olho para o outro lado e, novamente, lá está ele de braços abertos. Agora um pouco mais distante que na antiga morada, mas ainda está lá, e a ele peço que olhe por mim enquanto saio de casa para vencer.
Entre Iemanjá e o Cristo de braços abertos estou eu, meu café agora quase morno, e a minha vontade de ficar ali, como era antes, com meus livro e meus acervos, todos convertidos em megapixels armazenados em minúsculos dispositivos que, quanto menores, parecem tanto mais capazes de armazenar até o contentamento e a desolação que acompanha a longa jornada que é transformar aquele amontoado de informações em conhecimento, que sabe-se lá quem vai querer conhecer.
Tomo o último gole de café, agora quase frio, e vou me arrumar. Apesar do calor bonito e aterrador, pego um casaco de lã para esquentar as horas em que, como uma iluminista do século XXI, escrevo verbetes e tento colocar um pouco de ordem nesta grande enciclopédia biográfico-brasileira que de tanto tentar explicar coisas já quase fundiu minha cuca!
E lá vou eu, a John Locke Tupiniquim da era digital, pegar um ônibus que me leve até o grande laboratório de idéias onde passo, todos os dias, uma porção de horas na expectativa de que, de fato, como dizia o Locke inglês, o homem adquira um cadinho de conhecimento ao longo de sua empírica jornada!
Pelo caminho vou vendo as pessoas passarem enquanto o ônibus segue o mesmo percurso de todos os dias, dou um profundo cochilo de não mais que 5 minutos, até que chega a hora de descer. Desajeitada com bolsa, sacola, mpb nos ouvidos e um turbilhão de coisas na cabeça, consigo descer as escadas, meio trôpega, mas sem tropeçar, e eis que, novamente, me deparo com o mesmo Cristo, ainda com seus braços abertos!Puxa...
agora ele parece estar mais próximo.Novamente o olho, sinto uma breve impressão de que não me movi, de que se quer tomei aquela primeira xícara de café ou mesmo que derramei, se derramei, a primeira lágrima! mas o sinal vermelho pisca, os carros param, as pessoas afobadamente passam por mim, até que me embrenho por entre elas e então sinto que me movi, apesar do Cristo continuar ali, de braços abertos, agora mais próximo, eu mais distante e, ainda assim, feliz, bem feliz, com os dramas do sucesso que é viver cada dia!

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